abril 22, 2025
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Escalabilidade não é tamanho, é modelo de gestão

Os bastidores de uma advocacia preparada para crescer

A busca pelo crescimento é comum entre os escritórios de advocacia. Muitos desejam ampliar sua carteira de clientes, aumentar a equipe e conquistar espaço em novos mercados. No entanto, o que poucos percebem é que crescer sem estrutura pode comprometer a operação, reduzir a qualidade da entrega e desgastar os sócios. Isso acontece porque há uma diferença fundamental — e negligenciada — entre crescer e escalar.

Crescimento, por si só, exige um esforço proporcional. Mais demandas significam mais pessoas, mais horas de trabalho e mais controle. A escalabilidade, por outro lado, diz respeito à capacidade de crescer mantendo a operação eficiente, os custos sob controle e a qualidade dos serviços preservada. Trata-se de fazer mais com mais inteligência, e não apenas com mais recursos.

Muitos escritórios acreditam que o primeiro passo para crescer é contratar. Quando há sobrecarga, a solução imediata parece ser expandir a equipe. Mas contratar sem revisar processos, sem medir produtividade e sem entender onde estão os gargalos é apenas empilhar problemas. Escalar exige um olhar interno: o que consome tempo de forma improdutiva? Quais etapas do fluxo dependem exclusivamente dos sócios? Onde a operação está fragilizada?

Um escritório escalável não improvisa. Ele opera com base em rotinas bem definidas, com fluxos claros desde o primeiro contato com o cliente até a entrega final. A padronização de procedimentos — longe de engessar o time — garante previsibilidade, reduz erros e libera energia para decisões estratégicas. Escritórios que crescem com consistência investem tempo em desenhar processos que funcionem mesmo com a entrada de novos profissionais, novos clientes e novas demandas. E o mais importante: que continuem funcionando quando o volume aumenta.

É comum encontrar bancas que cresceram rapidamente e, em pouco tempo, enfrentam uma série de problemas operacionais. Isso acontece porque o crescimento sem preparo gera instabilidade. Os prazos começam a falhar, a comunicação se perde, a qualidade jurídica cai — e a confiança do cliente também. Escalar é justamente evitar esse cenário. É crescer com base sólida, e não no improviso.

Neste contexto, a tecnologia deixa de ser um diferencial para se tornar uma aliada indispensável. Ferramentas de gestão jurídica bem implementadas otimizam o tempo da equipe, reduzem o retrabalho e oferecem aos sócios uma visão gerencial da operação. Automatizar o que é repetitivo, integrar prazos, gerar indicadores e facilitar o trabalho remoto são elementos básicos de uma advocacia moderna e escalável. O ponto central é que a tecnologia precisa estar a serviço da estratégia — e não ser adotada como modismo.

Outro fator determinante é a forma como o escritório distribui as responsabilidades. Modelos altamente centralizados, em que tudo passa pelos sócios, limitam o crescimento. A escalabilidade exige que o escritório opere com clareza sobre funções e áreas: atendimento, produção jurídica, administrativo, financeiro e prospecção precisam ter responsáveis, metas e autonomia. A liderança deve ser construída, não concentrada. O sócio que deseja escalar precisa deixar de ser o centro da operação e passar a atuar como estrategista e desenvolvedor de equipe.

É preciso também falar de cultura organizacional. Escritórios que desejam escalar precisam investir em cultura de gestão, comunicação clara, compromisso com resultados e valorização de talentos. Uma equipe madura, que entende seu papel e se sente parte do todo, entrega mais e sustenta o crescimento com menos dependência da figura dos sócios. Escalar também é formar pessoas. E isso exige disciplina, paciência e clareza de propósito.

Além disso, a escalabilidade só se sustenta com previsibilidade. Escritórios bem geridos acompanham dados concretos: produtividade por advogado, custo médio por processo, tempo de entrega, taxa de retrabalho e nível de satisfação dos clientes. Esses indicadores não são burocracia — são instrumentos de análise, correção de rota e tomada de decisão. Sem números confiáveis, o crescimento é instável — e, muitas vezes, insustentável.

Vale lembrar que escalabilidade não é sobre crescer a qualquer custo. É sobre construir um modelo de negócio que funcione com consistência, mesmo sob pressão. O objetivo não é apenas aumentar o faturamento, mas melhorar margem, reduzir riscos e garantir sustentabilidade no médio e longo prazo.

No fim das contas, escalar é mais do que um desejo: é uma construção. Escritórios que desejam crescer de forma consistente precisam investir em organização, processos, tecnologia, pessoas e cultura. Porque a verdadeira advocacia de alto desempenho não nasce do volume — nasce da estrutura.

Fernando Henrique de Oliveira Magalhães

É graduado em Economia pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), turma de 1985. Sua formação de base foi concluída no Colégio Santo Américo, onde finalizou o ensino médio em 1981.

Ao longo de sua trajetória, construiu uma base sólida em gestão, estratégia e finanças, com ênfase especial na estruturação e desenvolvimento de negócios. Em 2018, concluiu o curso de Planejamento Estratégico para Escritórios de Advocacia na GVlaw, da Fundação Getúlio Vargas, e participou do programa “Melhores Práticas de Gestão de Escritórios de Advocacia”, promovido pela TOTVS. No ano seguinte, aprofundou sua atuação no segmento jurídico com a especialização em Gestão Jurídica Estratégica pela FIA – Fundação Instituto de Administração.

Sua experiência também se estende ao varejo e ao franchising, tendo concluído diversos programas voltados à gestão e desempenho operacional. Entre eles, destacam-se os cursos “Finanças para Varejo” e “Gestão de Lojas e Negócios”, ambos promovidos pela Growbiz, além do “Programa de Treinamento para Gerentes de Varejo” e “Técnica de Vendas para Varejo”, ministrados pelo Grupo Friedman. Também integrou a “Franchising University”, iniciativa do Grupo Cherto, voltada à profissionalização da gestão de redes de franquias.

Além disso, possui fluência em inglês, tanto na comunicação oral quanto escrita, resultado da formação completa — do nível básico ao avançado — cursada na Associação Alumni entre 1987 e 1990.

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